quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Alice Yamamura

  • A ceramista Alice Yamamura, a artista nipo-paranaense mais conhecida e premiada do estado, morreu na última sexta-feira, dia 29 de agosto. Alice estava em tratamento de saúde há meses, sem um diagnóstico preciso. Por causa do tema de suas últimas criações, ficou conhecida como "a artista dos corações".Natural de Paranavaí, graduou-se em Maringá e, dois anos depois, foi aprovada emum concurso público para trabalhar em um banco. Um pedido de transferência para São Paulo a trouxe para Curitiba. Logo que chegou na capital paranaense inscreveu-se no Centro de Criatividade do Parque São Lourenço e durante dois anos teve aulas de pintura e cerâmica O trabalho no banco dava a ela a possibilidade de aperfeiçoar-se (tanto em técnica quanto na criação)sem a necessidade de sobreviver da arte. Sem formação acadêmica, passou a trabalhar com cerâmica Começou a dar aulas a pedido de um grupo de pessoas. A arte falou mais alto e ela saiu do banco. No ateliê, foi grande formadora de artistas e a maior incentivadora deles.Desde 1982 participava de bienais. Foi homenageada na 7ª. e 11ª. Edições do Salão Paranaense de Cerâmica e da 1ª. Mostra Sul-Brasileira de Arte Cerâmica (Criciúma-SC). Recebeu prêmios do Salão Paranaense de Cerâmica (2º, 4º, 9º. E 10º. Edições), 5º. Salão de Cerâmica (MARGS, Porto Alegre, RS) e 4ª. Mostra de Escultura João Turin. Um coração encima da parede, outro coração flutuando e vários corações no chão como pássaros, para mim são pássaros. Hreczuck
  • Coração com a marca das mãos da Alice

  • A artista dos corações
    Publicado em 02/09/2008 Benedito Costa Neto, especial para a Gazeta do Povo

  • A ceramista Alice Yamamura – que morreu na última sexta-feira, em Curitiba – era (também) a artista dos corações. Para todos que achavam o coração uma figura muito simples, óbvia ou duvidosa, Alice, que não precisava provar nada, mostrou o quanto se podia fazer com as duas curvas, uma para a direita e outra para a esquerda, que uma criança pode fazer com facilidade. Ela fez peças em cerâmica, às muitas dezenas, algumas grandes como imensas frutas, outras menores, vermelhas, douradas, brancas, do tamanho de ... corações. Houve brancas, em diversos materiais, como o mármore e também algumas médias, em que a artista deixou gravada sua mão. Os corações inflados de Alice encheram o MAC, subiram as paredes, estão em muitos lares.
    Pelo ateliê da artista, passaram muitos outros artistas, alunos, amigos, seguidores. Sempre foi muito bonito ver, em frente ao Parque São Lorenço, a casa cheia – antes casa que ateliê – a cada queima, uma festividade, um mescla de religião, arte, ritual da amizade, uma devoção ao fazer cerâmico, à influência de Alice, às possibilidades de um encontro consigo mesmo. O mundo de Alice de fato era encantado: artista premiada e reconhecida (mesmo pelos que torcem o nariz para tudo que não seja conceitual), traçou o caminho de tantos outros, premiados também, e que hoje podem dar seqüência ao seu trabalho encantatório.
    Alice era única, com os vestidos brancos em algodão (“combinações”, como se dizia), o cabelo assimétrico, o corpo pequeno, um sorriso que se perpetuava em suas criações e que atravessou sempre as piores crises, até mesmo quando justamente o que ela fazia melhor precisou ficar em suspenso. Ela deixa um companheiro abismado, Gerson, uma família emudecida pela surpresa da morte, os amigos perplexos. De fato, vivemos uma grande perplexidade, dessas que médicos, cientistas, poetas, religiosos não podem explicar.
    Hoje pela manhã, toquei em uma de suas peças sobre a mesa, um coração dourado. Ele balançou durante alguns minutos e foi parando lentamente. Assim, Alice Yamamura nos deixa: em silêncio, sutilmente, uma grande dama.
    Benedito Costa Neto é professor de Literatura. Depoimento feito por uma amiga da Alice via E-MAIL .Realmente foi muito triste a notícia do falecimento da Alice. Eu, realmente, fiquei chocada.A causa da morte não foi esclarecida. Ela fez todos os exames possíveis e todos apresentavam resultado normal. Até a possível contaminação por chumbo, foi descartada (conforme me foi informado). Ela tinha artrite há algum tempo e estava com vasculite (inflamação dos vasos sangüíneos), mas pelo que se sabe isso não causaria a morte de ninguém. Conforme os médicos, existem muitas doenças auto-imunes (quando o sistema de defesa do organismo ataca o próprio corpo) que são desconhecidas e talvez essa possa ter sido a causa. Mas isso é cogitação, hipótese.O que aconteceu mesmo, ninguém sabe. Há um ano ela não estava bem, não estava trabalhando mais e, há alguns meses, já não conseguia mais se levantar da cama. Foi então que, há um mês, ela foi internada e práticamente viraram a Alice do avesso para descobrir o que ela tinha. Tudo em vão.Fiquei um ano afastada das atividades de ceramista (por causa de monografia, cursos, etc) e agora estou retomando tudo e planejava voltar a freqüentar o atelier dela, aí, vem essa triste notícia. Material sobre a Alice infelizmente não tenho, tenho apenas minhas lembranças, um coração dela em raku e o catálogo dela autografado (que agora viraram relíquias). Se interessar posso fotografar o coração e te enviar a foto por e-mail.Freqüentar o atelier dela foi muito importante para o meu aprendizado em cerâmica, mas também era uma festa. Tinha sempre alguém fazendo um bolo (lá na cozinha do atelier, durante a aula!), um doce diferente, ou trazendo gostosuras para a hora do lanche, isso sem falar na conversa, no bate-papo, que era sempre bom. Lembro que uma tarde passei um aperto! ela pediu para eu ficar no Atelier enquanto ela dava uma corridinha no mercado, que era ali perto, e depois que ela saiu uma das cadelinhas dela (ela tinha duas) que estava prenha se aninhou nas minhas pernas e começou a dar a luz. CARACA!!! que situação!!! eu não sabia o que fazer, então, liguei para o celular e quando ela atendeu eu disse: Corre prá cá que você está sendo avó!!!!! Ela não correu, ela voou, e ficou acompanhando todo o parto (se eu bem me lembro foram 8 cachorrinhos) até de madrugada.Essa era a Alice.Ela era muito querida por todos, inclusive, um de seus maiores amigos (se não o maior) era o Luis Mello, o ator da Globo. Eles tinham um relacionamento de irmãos. Para qualquer lugar que ele fosse, trazia um presente para ela (nem que fosse um saco de mexericas) e estava sempre aparecendo lá no atelier. O atelier dela, fiquei sabendo hoje, não vai ser desmanchado (parece que essa foi uma decisão do marido dela e da família) e nenhuma peça mais será vendida. O local vai virar acervo, talvez um centro cultural. Parece que já começaram a catalogar tudo. O que posso fazer é tentar fotografar a frente do Atelier e mandar para você. Tem um jardim na frente com peças da Alice em tamanho grande, lindas. Nesse momento acho que o interior do atelier não poderá ser visitado, mas vou me informar e qualquer coisa de aviso. Se eu soubesse que as coisas correriam assim eu tinha tirado fotos dela, dos colegas de aula, do atelier, como é que pode ? Eu nunca pensei nisso, em fotografar, para mim era como se ela fosse estar lá prá sempre...Achei lindo o que você escreveu: logo teremos nuvens em formato de coração... Acho que essa foi umas das mais bonitas frases que se escreveu sobre ela.Desculpe o e-mail gigante, mas é que como tudo está muito recente parece que a gente precisa falar (nem que seja escrevendo) para aliviar um pouco. Sempre que eu tiver notícias ou imagens mando para vocé ok?Um grande abraço,Liliane. Alice contrói coraçõesprá gente fazer poesia.
    Se ele quer ser forte como o mármore,que brilhe até refletir a lua.Se ele é de vidro e quebra,que tenham muitos ao nosso alcance,para que através deles,ainda possamos nos lembrar das estrelas.
    Mas se ele é de terra,da terra,com certeza tem diferentes sons e tons,vai de onde a gente pega,vem de como a gente vê.Oi Alice!Brinca que faz coração e enche esse mundo de amor!Cristina Mendes